Investigadores do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho (UMinho) descobriram que a lactoferrina, uma proteína do leite, é decisiva no tratamento e prevenção do cancro da mama.
O estudo, recentemente publicado no ‘Journal of Dairy Science’, concluiu que o tratamento de células cancerosas com lactoferrina reduziu a sua viabilidade para metade e a sua proliferação em quase dois terços.
A equipa de Lígia Rodrigues defende que produtos de leite e derivados devem ser enriquecidos com lactoferrina, como forma natural de não contrair cancro da mama ou prevenir a evolução da doença.
“Esta investigação é de particular relevância para a indústria alimentar. O consumo de leite e derivados, ou mesmo produtos enriquecidos com lactoferrina, pode no futuro constituir uma forma natural de prevenir o cancro de mama ou de melhorar o tratamento dos pacientes”, realça Lígia Rodrigues.
A professora do Departamento de Engenharia Biológica, da Escola de Engenharia da UMinho sublinha que esta proteína é reportada como um importante agente em vários tipos de cancro e vai agora fazer estudos complementares para clarificar o seu papel potencial, designadamente os mecanismos de acção dessas substâncias activas e que quantidades devem ser incluídas na dieta humana para produzir benefícios.
O que é a lactoferrina?
A lactoferrina é uma glicoproteína existente no soro de leite que tem como característica o facto de se ligar ao ferro e, como tal, pode encontrar-se nos fluidos corporais sob várias formas. É conhecida pela sua acção inibitória na proliferação celular e pelas actividades anti-inflamatórias e antioxidantes.
A comunidad e científica reconhece que a dieta é um factor-chave na incidência de uma série de doenças crónicas, como o cancro. Os alimentos contêm milhares de substâncias biologicamente activas (como as proteínas e péptidos do leite), muitas das quais trazem grandes benefícios para a saúde e têm fins terapêuticos.
Apesar de inúmeros estudos comprovativos em modelos animais, o conhecimento dos seus efeitos no organismo humano ainda é limitado.
Estudo da UMinho avaliou efeitos do leite bovino
Neste estudo particular, Lígia Rodrigues avaliou os efeitos da lactoferrina do leite bovino em duas linhas celulares de cancro de mama (HS578T e T47D), uma delas sem receptor de estrogéneo. As células sem este receptor correspondem em geral a tipos de tumores mais agressivos, cuja terapêutica existente não é muito eficiente.
“Caso a lactoferrina se revelasse efectiva neste tipo de células, seria um relevante avanço científico, podendo vir a ser combinada com o estrogéneo em novas soluções terapêuticas”, refere a cientista, que contou na equipa com o professor catedrático José António Couto Teixeira, a mestranda Cristina Duarte e o doutorando Yunlei Zhang, todos do Centro de Engenharia Biológica da UMinho.
As linhas celulares cultivadas em laboratório foram expostas a diferentes concentrações da proteína (0.125 a 125 µM), tendo no nível mais elevado de exposição resultado numa redução da viabilidade celular de 47% nas células HS578T e 54% nas T47D. Esta concentração de proteína promoveu ainda o dobro do aumento da morte celular (apoptose), respectivamente de 40 e 64%.
Por fim, em células com receptor de estrogéneo houve menor migração celular na presença da lactoferrina.
in Correio do Minho - 09/03/2012
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