terça-feira, 10 de abril de 2012

Portugueses reproduzem modelos de fígados humanos

Uma equipa de investigadores portugueses conseguiu desenvolver em laboratório pequenas réplicas de fígados. O sistema permite testar as reações hepáticas a determinados químicos, sem recurso a animais, estudar doenças do fígado e desenvolver aparelhos extra-corporais de suporte à função hepática para fins terapêuticos.
 
A investigação foi desenvolvida por cientistas do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (iBET) e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica - Universidade Nova de Lisboa (ITQB-UNL), e contou com a colaboração da empresa sueca Cellartis, a primeira empresa do mundo a colocar no mercado células hepáticas e cardíacas derivadas de células estaminais humanas para aplicação à descoberta de novos fármacos. 
 
A investigação portuguesa, liderada por Paula Alves, conseguiu manter células de fígados humanos (hepatócitos) em cultura durante longos períodos, sob a forma de agregados de células capazes de produzir enzimas hepáticas responsáveis pela metabolização de fármacos. Estes "microfígados" são também os primeiros a replicar características fundamentais da arquitetura do órgão humano ligadas à função de secreção da bílis.

Sistema de cultura celular atinge longevidade inédita 
 
Image and video hosting by TinyPic
Uma das cientistas envolvidas no projeto, Catarina Brito, explica ao Boas Notícias que "todos os fármacos e químicos passam pelo fígado, onde são transformados pelas células especializadas (os hepatócitos) antes de serem encaminhados para os outros órgãos do organismo". A investigadora da Unidade de Tecnologia de Células Animais do iBET acrescenta que "estas transformações podem fazer com que os compostos ganhem novas características, podendo tornar-se tóxicos e, no caso de um medicamento, perder a atividade desejada ou ganhar novos efeitos não pretendidos."
 
As culturas de células de fígados humanos (hepatócitos) têm sido, por isso, fundamentais para os testes de toxicidade e metabolismo de fármacos, exigidos pela Food and Drug Administration e a European Medicines Agency às companhias farmacêuticas.

No entanto, "alguns dos problemas associados à utilização de hepatócitos humanos é a curta duração destas células em cultura, de até cinco dias, e a perda das atividades enzimáticas específicas associadas" adianta a cientista que, neste trabalho, foi responsável pelo design das experiências e pela co-coordenação do trabalho experimental.

"O nosso sistema de cultura permite manter hepatócitos humanos funcionais até um mês em cultura, com produção das mesmas proteínas que o fígado humano e em quantidades equivalentes", assegura Catarina Brito. 
 
A longevidade das células criadas "permite usar a mesma população de hepatócitos para o estudo da metabolização de doses repetidas do mesmo fármaco, o que é essencial durante o desenvolvimento pré-clínico que antecede a aprovação dos novos fármacos”, salienta a coordenadora da investigação, Paula Alves, em comunicado. 

A utilização da técnica para o teste da reação hepática a fármacos ou para o estudo de doenças hepáticas pode ter já aplicação imediata.

Técnica pode permitir criar fígados bio-artificiais
 
Image and video hosting by TinyPic
Catarina Brito refere, ainda, que já está a ser implementada, para começar nos próximos dois ou três anos, aplicação da técnica ao "desenvolvimento de sistemas de suporte extracorporal para suporte de função hepática", em colaboração com a equipa de Paulo Marcelino, do centro de transplantes do Hospital Curry Cabral, em Lisboa.

 
A investigação contou, além de Paula Alves e Catarina Brito, com os cientistas Margarida Serra, Manuel Carrondo, Rui Tostões e Sofia Leite - na altura estudantes de doutoramento.
 
A equipa continua a trabalhar neste e em outros projetos, agora com vista ao desenvolvimento de modelos 'in vitro' de cérebros e de cancro, em parceria com a farmacêutica portuguesa TECNIMEDE .

Consulte o artigo sobre a investigação na capa da revista Hepatology de Abril ou no site oficial da publicação AQUI. O site oficial do Instituto de Tecnologia Química e Biológica pode ser consultado AQUI.

in Boasnotícias - 10/04/2012

Sem comentários:

Enviar um comentário