Um jovem investigador português e a sua equipa estão a estudar um método capaz de matar as células cancerígenas privando-as dos nutrientes de que precisam para se multiplicarem. Embora ainda em fase de validação pré-clínica, esta poderá vir a ser uma alternativa à tradicional quimioterapia.
Há cerca de dois anos, Gonçalo Bernardes, de 31 anos, doutorado em Química Biológica pela Universidade de Oxford, viajou até Zurique, na Suíça, para dar início a estes estudos com o apoio financeiro da Novartis e da European Molecular Biology Organization (EMBO).
O caráter inovador da terapia desenvolvida pelo português e os seus colegas reside na utilização de anticorpos associados a drogas muito direcionadas.
Quando os tumores estão a crescer formam-se novos vasos sanguíneos nas suas imediações. São estes vasos sanguíneos que transportam os nutrientes até às células "más", indispensáveis para que estas se reproduzam.
"Nós temos anticorpos que são específicos para estes novos vasos sanguíneos e que levam drogas acopladas. Na imediação do tumor, as drogas vão ser libertadas e exercem um efeito terapêutico, matando as células cancerígenas" ao impedir que estas sejam alimentadas, explica Gonçalo Bernardes ao Boas Notícias.
Até agora, a equipa apenas realizou testes em ratos, uma vez que os estudos ainda se encontram numa fase inicial, mas as experiências incidiram sobre vários modelos de cancro.
"Neste momento estamos a otimizar os conjugados para que os resultados terapêuticos sejam mais significativos em animais de modo a poder validar o modelo para, possivelmente, tentar testes clínicos em pacientes no futuro", conta o investigador.
Método poderá ser alternativa à quimioterapia
A passagem à fase dos testes clínicos exige a obtenção de licenças e o processo é demorado, pelo que não há uma previsão de quando estes poderiam ter início. Porém, como a formação de novos vasos sanguíneos é inerente a todo o tipo de tumor, a terapia com anticorpos e drogas surge no horizonte como uma alternativa à quimioterapia para diversos cancros.
"Claramente pode ser um tipo de alternativa à quimioterapia porque, neste caso, uma vez que a droga apenas exerce os seus efeitos no tumor, o resultado é muito melhor", defende Gonçalo Bernardes.
O único senão da eventual utilização desta terapia em humanos no futuro é o preço. Uma terapia anual com este conjugado tem um custo estimado entre os 100 mil e os 120 mil dólares por paciente ao ano.
"As terapias com anticorpos e com anticorpos conjugados com drogas são efetivamente bastante caras atualmente", admite o investigador, frisando que as drogas usadas na quimioterapia têm um custo de produção muito inferior.
No entanto, Gonçalo Bernardes mostra-se otimista e acredita que esta situação pode inverter-se. "À medida que cada vez mais proteínas e anticorpos forem estando licenciados e no mercado, os custos de produção vão diminuir. Penso que neste momento é caro, mas que no futuro, certamente, os preços vão baixar".
Investigação vai continuar nos próximos anos
Por enquanto, a equipa vai continuar a trabalhar no sentido de aumentar a potência da combinação entre anticorpo e droga, fortalecendo os seus efeitos terapêuticos. "Estes são estudos que demoram algum tempo e, durante os próximos dois, três anos, vamos estar focados em aumentar a capaccidade terapêutica dos nossos compostos", desvenda o coordenador da investigação.
O objetivo é claro: dar maior força aos ensaios pré-clínicos tornando-os mais convincentes para que haja uma motivação para passar ao próximo passo, a realização de ensaios clínicos em humanos.
De qualquer das formas, Gonçalo Bernardes mostra-se satisfeito com as conclusões obtidas até agora. "Todos os estudos trazem algo de novo. O que conhecemos é sempre só uma pequena parte e desta forma estamos a tentar ajudar à resolução de um problema que é extremamente
in Boasnoticias - 09/02/2012
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